O desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo Armando Sérgio Prado de Toledo, 59, investigado no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sob suspeita de favorecer o deputado estadual Barros Munhoz (PSDB-SP), foi contratado no dia 16 como consultor do presidente da Petrobras, Aldemir Bendine.
Cinco dias antes, Toledo surpreendeu os colegas da magistratura com o requerimento de aposentadoria, concedida pelo presidente do TJ-SP, José Renato Nalini.
Ele poderia permanecer no cargo por mais 11 anos.
Segundo afirma a Petrobras, Toledo prestará assessoria à presidência "em matérias relacionadas ao seu histórico profissional e acadêmico na área jurídica".
Ele não respondeu os pedidos da Folha para confirmar se acompanhará os processos da Operação Lava Jato.
Magistrados atribuem a contratação de Toledo a possível retribuição por sua atuação na intermediação de contatos do Banco do Brasil, presidido por Bendine até fevereiro, com o TJ paulista.
Por vários anos, Toledo tratou de interesses do tribunal junto a órgãos públicos.
Em junho passado, ele participou da cerimônia de assinatura de dois convênios que centralizaram no BB os créditos da folha de pagamentos do TJ-SP, contas de depósitos judiciais e créditos de precatórios (dívidas do Estado com pessoas físicas e jurídicas).
Os convênios foram firmados por Bendine e Nalini.
Toledo não está impedido de assumir o cargo na Petrobras. Aposentado, ele só não pode exercer a advocacia perante o judiciário paulista.
Suspeita
A Folha revelou em 17 de fevereiro que o então desembargador havia retardado por mais de três anos uma ação penal contra Barros Munhoz supostamente para beneficiar o deputado estadual tucano.
O processo é referente a suspeita de desvios de recursos quando Munhoz era prefeito de Itapira (SP).
Os crimes de formação de quadrilha, fraude à licitação e omissão de informações ao Ministério Público prescreveram enquanto o processo estava com Toledo. Munhoz ainda responde ação penal por suposta apropriação e desvio de bens e rendas públicas por 33 vezes.
Toledo deixou a corte paulista desgastado. Na eleição que conduziu Nalini à presidência, foi o último colocado na disputa pelo cargo de corregedor-geral.
O presidente do TJ-SP acomodou-o como representante do tribunal na Comissão Executiva do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil, que não faz parte da estrutura formal do Judiciário e atua para defender as prerrogativas do Poder em eventos com patrocínio público e privado.
A demora no CNJ para levar a julgamento uma reclamação disciplinar contra Toledo gerou a suposição entre magistrados da existência de rede de proteção para blindá-lo no TJ-SP e no órgão de controle externo do Judiciário.
A aposentadoria voluntária não extingue a responsabilidade administrativa.
Dependendo da decisão do CNJ, ela pode convertida em compulsória e o Ministério Público pode mover ação de perda do cargo de desembargador e da aposentadoria.
Fonte: Folha de S. Paulo (via Uol), por Frederico Vasconcelos