11/01/08
Posto 4 estréia "Nação Fast Food"

Em cartaz de 11 a 17 de janeiro
Sessões às 16 horas, 18h30 e 21 horas

Nação Fast Food - Uma Rede de Corrupção (Fast Food Nation)
EUA/ 2006/ 114 minutos/ cor/ 35mm

GêneroDrama
Direção - Richard Linklater
Elenco Patricia Arquette, Ethan Hawke, Wilmer Valderrama, Ashley Johnson, Greg Kinnear, Mitch Baker, Catalina Sandino Moreno, Erinn Allison, Bobby Canavalle, Avril Lavigne, Luis Gúzman.

Sinopse

Don Henderson trabalha para uma das maiores redes de fast food dos Estados Unidos. Sua mais recente criação, o sanduíche The Big One, tornou-se um sucesso de vendas e levou às alturas seu prestígio na empresa. Certo dia o chefe de Don o chama para uma conversa particular. Um amigo da universidade, ligado ao laboratório de testes com alimentos, contou que um escândalo está prestes a estourar: a carne de hambúrguer da casa está contaminada. Caberá a Don investigar o problema.

Nação Fast Food - UMA REDE DE CORRUPÇÃO

É de conhecimento público e geral que comer em redes de lanchonetes fast-food é péssimo para a saúde de qualquer um e, mesmo assim, milhões de pessoas continuam mantendo este hábito no mundo inteiro. Faz parte do paradoxo humano continuar fazendo coisas que todos sabemos que são prejudiciais a nós mesmos, como beber em excesso, fumar, comer junk food ou torcer pelo Corinthians.
Assim, a denúncia do filme
Nação Fast Food - Uma Rede de Corrupção - de que a carne dos hambúrgueres de uma rede de lanchonetes estaria misturada ao estrume dos bois - não chega a ser exatamente estarrecedora para um país que tem um Senado como o nosso, posto que estamos acostumados a escândalos muito mais escatológicos. Sim, é um bom filme que se acompanha com interesse, mas não chega a ser explosivo, como se anunciou no ano passado, quando Nação Fast Food - Uma Rede de Corrupção foi convidado a integrar a cobiçada mostra competitiva do Festival de Cannes.
Tudo começa quando uma fictícia rede de fast food chamada Mickey recebe os resultados de um exame, comprovando que seus hambúrgueres contêm um alto índice de coliformes fecais. O presidente da empresa envia Don Henderson (Greg Kinnear, de Pequena Miss Sunshine), um de seus diretores, até à cidade de Cody, na fronteira com o México, onde os bois são abatidos e a carne é processada industrialmente. A idéia é que Don investigue o caso.
Paralelamente, o filme também mostra o contrabando de imigrantes ilegais, que cruzam a fronteira em direção aos EUA arriscando a própria vida. Não é difícil perceber que as duas pontas vão se encontrar: sem direitos legais, os imigrantes são contratados para trabalhar no matadouro, onde as condições de trabalho são péssimas, formando assim um círculo vicioso que - como não poderia deixar de ser - acaba contaminando a carne.
O diretor Richard Linklater, o mesmo de Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol, expõe todo este processo de forma sóbria. Esqueça os filmes de ação investigativa com lances de heroísmo e vilões e mocinhos trocando tiros pelas ruas: tom de
Nação Fast Food - Uma Rede de Corrupção beira o documental.
Há, sim, momentos interessantes de crítica sarcástica. Por exemplo: quando Don chega à cidadezinha, ele ostensivamente estaciona seu carro diante de um McDonald's que a câmera faz questão de enquadrar de forma marcante - como que deixando claro que a tal da rede Mickey, inventada pelo filme, é apenas uma forma dos produtores não serem processados pelo verdadeiros "culpados" da história. Ou o discurso fascista do personagem interpretado por Bruce Willis, numa divertida participação especial. E também há cenas nas quais Linklater deixa a sutileza de lado e "brinda" o espectador com um banho de sangue, explicitando o processo de abate do gado. É de deixar qualquer um com aversão a carne por um bom tempo.
Provavelmente, porém, o grande recado do filme é passado de maneira cínica: por que o presidente de uma empresa mandaria um diretor de marketing para investigar um caso de contaminação? Certamente porque, cada vez mais, a imagem corporativa está cima de qualquer preocupação com a saúde do consumidor. E não importa quantos mexicanos ilegais tenham que morrer para comprovar tudo isso.
Um detalhe final: totalmente avesso à autocrítica, o povo americano preferiu não ver o filme, que faturou um mísero milhãozinho de dólar nas bilheterias do país.

Por Celso Sabadin -  CINECLICK