10/11/08

Agendamento por site é falho e tumultua Hospital do Servidor

A marcação de consultas no Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo, é hoje um desafio. A internet, ferramenta disponibilizada no ano passado para agendamentos antes feitos, em sua maioria, no próprio hospital, faz com que usuários esperem meses até conseguir marcar. Traz dificuldades para quem não navega na internet -principalmente idosos- e transtornos aos que descobrem, na hora da consulta, que ela não está agendada.

Em visita ao hospital, a Folha encontrou vários pacientes nessas situações. "Fiquei oito meses até conseguir marcar uma consulta com [um] cardiologista para mim e para minha mãe, pela internet. Entrava dia sim, dia não. Sempre aparecia que não havia vagas", conta Scheila Santos Raimundo, 46. Ela não tem internet em casa e acessa a rede apenas em seu trabalho, no Poupatempo, no centro de São Paulo.

Quanto à terceirização, a mais grave mudança está no fato de o texto aprovado autorizar terceirização nas atividades-fim da empresa. Também dificulta o cumprimento da exigência de vínculo na Justiça do Trabalho, facilitando as fraudes. Há ainda rebatimento na atuação sindical, uma vez que não está prevista informação, ao movimento sindical, sobre os processos de terceirização; nem há referência clara quanto a quem representa os trabalhadores terceirizados.

Lá, segundo Scheila, atendentes que lidam com a internet ficam a postos às 18h55 para tentar marcar consultas para os outros funcionários. Isso porque o sistema de marcação pela internet é disponibilizado sempre às 19h, de segunda a sexta. Os usuários têm alguns minutos para conseguir marcar sua consulta ou retorno para dali a alguns dias. Muitos reclamam que, às 19h15, já não há mais nenhuma vaga disponível.

Além disso, quem consegue marcar não tem certeza de que será atendido. "Fiquei uns 15 dias para agendar geriatra e gastro para a minha mãe. No dia marcado, vimos de Osasco e não constava em nenhum lugar esse agendamento. A situação está crítica aqui", diz o aposentado Valcir Cabral.

Hospital
O hospital é o principal centro de atendimento do Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Estadual) e está ligado à Secretaria Estadual da Gestão Pública. O instituto atende 1,3 milhão de usuários por meio do hospital, postos de saúde e convênios com hospitais no interior.

Segundo a superintendência, a dificuldade para marcar acontece, entre outros motivos, porque a internet não se integra com os outros sistemas -por telefone e pessoalmente, nos guichês, método que antes provocava enormes filas.

Para a Amiamspe, a associação médica do instituto, caso ainda estivessem no hospital os 204 funcionários demitidos em 2007 -entre eles 64 médicos aposentados- o atendimento poderia estar melhor. Novecentos médicos atendem hoje.

Com dificuldades para marcar consultas, muitos usuários recorrem ao PS e "incham" o serviço. Na terça-feira, não havia pacientes em estado grave esperando atendimento, mas outros aguardavam pelo menos duas horas e se queixavam de que apenas dois médicos atendiam. A funcionária pública Regina Maria de Assis, 40, que acompanhava a mãe, disse que "a demora é sempre grande" e que já ficou no local das 6h às 16h para consultar exames.

Alguns precisam de especialistas. Uma professora que preferiu não se identificar disse que, havia dias, tinha problema de memória, e que só estava ali por não conseguir marcar com um neurologista após tentar por todos os meios possíveis.

Outro lado
Situação vai melhorar com novo sistema de marcações, afirma superintendente

Na tentativa de melhorar a marcação de consultas, o Hospital do Servidor Público Estadual contará com uma central de agendamento a partir de janeiro. A informação é do superintendente do hospital, Latif Abrão Júnior.

"A implantação está em fase avançada. É reconhecido o problema de agendamento. Fizemos a contratação dos equipamentos. Isso tudo tem que ser mudado radicalmente. Não é possível liberar a agenda na internet às 19h e às 19h01 estar tudo cheio", diz.

O superintendente prevê ainda a integração do sistema de marcação, levando em conta as feitas pela internet, telefone e nos guichês, o que não ocorre hoje, aumentando a confusão.

No cargo desde março, Abrão diz que o número de consultas cresceu mais de 20% no período - hoje são 60 mil por mês. Ele diz que o hospital tem atuado em diversas frentes para isso. "Aumentamos a oferta de serviço médico. O governador José Serra [PSDB] já aprovou a contratação de 122 médicos. Além disso, buscamos resolver a prestação de assistência no interior, aumentando o número de cidades com serviços credenciados de 113 para 198", diz.

A estratégia visa credenciar mais hospitais e consultórios, já que os convênios para atendimentos no interior hoje praticamente se restringem às Santas Casas. Abrão diz que o aumento do atendimento é possibilitado por mudanças administrativas aplicadas e por uma decisão do governo estadual que garantiu mais R$ 100 milhões por mês ao hospital a partir de janeiro.

Segundo ele, a demissão de médicos no ano passado não trouxe prejuízo e foi feita em razão de decisão judicial. Ele conta que, após a demissão, 60 médicos de concursos passados foram integrados. Para Abrão, um dos desafios da gestão é exercer também um maior rigor sobre o atendimento médico, verificando, por exemplo, o número de horas trabalhadas.

Fonte: Folha de S. Paulo – www.folha.com.br
Divulgado em 10 de novembro de 2008
Por Márcio Pinho